
O dia finda com o privar da claridade,
Fujo, mais uma vez, à obscuridade,
Onde vivo o tormento frio das sombras,
Resistindo ao vazio imenso que me cedeste.
Já não sinto ou contemplo algo,
Não aqui, onde o ruído da essência se dissipou.
É inevitável destruir o resto do âmago,
Dá-lo aos abutres que se inquietam há muito tempo,
Detectando o odor nu da morte,
Mas é nesse instante que o espírito se desprende
E volta ao limiar do teu ser,
Aspirando adormecer na margem do teu corpo cálido,
Porque foste a substância certa, neste cristalino orvalho
Que se desprendeu de nós.
Voltarei a espelhar nas minhas retinas a figura,
Que sempre se reflectiu na alma sentida
Que morou em ti?
O silêncio ainda te consagra,
Porque demonstraste que há corpos
Que brilham nos mais sombrios lugares,
Mesmo depois de se partirem em angústias,
Pois existe esta força que entra pelos poros
E teima em dar-me vida.